setembro 03, 2006

EROTISMO

Como eu não possuo

Como eu desejo a que ali vai na rua,
tão ágil, tão agreste, tão de amor..
Como eu quisera emaranhá-la nua,
bebê-la em espasmos de harmonia e cor!

...Desejo errado...
Se eu a tivera um dia,
toda sem véus, a carne estilizadas
sob o meu corpo arfando transbordada,
nem mesmo assim – ó ânsia! – eu a teria...

Eu vibraria só agonizante
sobre o seu corpo de êxtases dourados,
se fosse aqueles seios transtornados,
se fosse aquele sexo aglutinante...

De embate ao meu amor todo me ruo,
e vejo-me em destroço até vencendo:é que eu teria só,
sentindo e sendo
aquilo que estrebucho e não possuo.

Mário de Sá-Carneiro